Narcotráfico na América Latina
Texto produzido por:
Ozielita de Sena Coelho dos Anjos como tarefa de História da América VI
O narcotráfico movimenta uma extraordinária soma de dinheiro e articula mercados e interesses do mundo todo - aproveitando-se da globalização organizacional do crime.
Podemos considerar que o narcotráfico é um grave fator desestabilizador da estrutura econômica e social dos países latino-americanos, especialmente da Colômbia e Bolívia - afetando não só a qualidade de vida das pessoas, mas aumentando a violência e a insegurança e desgastando as instituições governamentais que procuram impedi-lo.
Evidenciamos assim que diante da consolidação do mercado internacional de drogas, os Estados sofrem diversas interferências do narcotráfico - por muitas vezes as estruturas do narcotráfico substituem os serviços do Estado, se fortalecendo cada vez mais.
Considerados os maiores consumidores de drogas do mundo, os Estados Unidos encaram o narcotráfico como uma questão de segurança nacional e por isso tem influenciado e aparelhado os países dominados pela produção de cocaína na luta e na repressão à droga.
Os grandes centros de produção de folha de coca como a Bolívia, por exemplo, movimenta uma grande quantia em dólares e oferecem emprego a milhares de pessoas. A Bolívia embora seja produtora da matéria prima, não manufatura a cocaína, essa etapa já se dá na Colômbia.
Vale destacar que além de concentrar quase toda produção mundial de coca, além do Peru, a Colômbia e a Bolívia fornecem também maconha tanto para o consumo interno, como para o tráfico mundial.
Na Colômbia os traficantes tentando conseguir pessoal para trabalharem em suas áreas de plantações de coca, por exemplo, oferecem uma remuneração muito superior aos ganhos obtidos com as plantações de gêneros alimentícios, como o milho, a batata e as matérias-primas.
Diante deste contexto provoca uma queda na pequena produção rural existente que se encontra impossibilitada de competir com as grandes fazendas comerciais, e assim sendo, favorece ainda mais o crescimento e a expansão do plantio da coca.
É notório que o poder dos cartéis tem crescido de forma alarmante, envolvendo grande parcela da sociedade tanto colombiana quanto boliviana e com isso vão gerando um grande número de marginalizados pelo agravamento da situação econômica.
O impacto das drogas sobre os setores sociais mais vulneráveis da Colômbia se dá principalmente com as crianças de rua, adolescentes e jovens, pois os programas de prevenção tem sido insuficiente. Há ainda outro fator que reforça a exclusão social, que é movida pela associação estereotipada entre o consumidor e o drogado.
Na Colômbia a situação da questão do trafico é muito delicada, as quadrilhas de traficantes são bem organizadas e se tornam cada vez mais fortes. A economia do narcotráfico envolve desde os grandes cartéis, como de Cali e Medellín, até os micros traficantes que agem diretamente com o consumidor local.
O governo ainda tem que enfrentar a guerrilha camponesa - existem regiões totalmente dominadas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), grupo de guerrilheiros surgidos em 1964. Tais guerrilheiros cobram “pedágios” para os traficantes de drogas, que na maioria das vezes são pagas com armamentos pesados.
Assim, enquanto a disputa bipartidária continuaria presa às velhas roupagens políticas, os grupos guerrilheiros, bem menos preocupados com as antigas utopias, ou mesmo em oferecer medidas políticas parciais eficazes para modificar as desigualdades sociais, passaram todos a negociar com as novas forças do narcotráfico (HISTÓRIA DA AMÉRICA VI – aula 02, p.5).
Notadamente o governo colombiano tem empregado uma série de medidas repressiva contra guerrilheiros e traficantes, mas com poucos resultados. No caso, as FARC se propõem em parar a guerrilha caso sejam incorporados à sociedade e se tiverem todos os presos soltos.
Especialmente a partir de 2002, com a eleição do presidente Uribe Vélez que implantou uma política de profissionalização das Forças Armadas estabelecendo a chamada “política de mão forte”, com uma maior presença da polícia nacional em diferentes localidades; maior número de soldados voluntários que atuam perto dos seus lugares de origem; e maior participação dos civis como rede de informantes - a qual é possível caracterizá-la como uma estratégia de política de segurança democrática.
A mesma tem feito com que a guerra contra os narcoguerrilheiros comece lentamente a ser vencida pelo governo e aos poucos seja minimizada a situação no país. Sabendo-se, que por enquanto as políticas nacionais ainda não tiveram um êxito completo no combate ao tráfico e a guerrilha - ainda há muito que fazer diante de tal enfrentamento. Acredito que as ações de combate devam ser adotadas, tanto por parte dos países produtores quanto dos países consumidores.
É correto afirmarmos que o tráfico de drogas criou uma perigosa economia paralela, com empregos diretos e indiretos em atividades usadas como “lavagem” de dinheiro do narcotráfico. Tal atividade favorece a corrupção de funcionários do governo, muitas vezes encarregados de coibi-la.
Na Bolívia a dependência em relação ao narcotráfico chega a um ponto extremo. Os traficantes detêm o controle das principais empresas, a corrupção atinge níveis incalculáveis. Estudos da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) revelam que de cada três bolivianos, um lucra com os derivados do narcotráfico, e desta forma demonstra que o setor de economia informal é muito superior ao formal.
Segundo a historiografia estudos demonstram que a Bolívia é fraca porque não tem um Estado sólido, com capacidade financeira e política para operar isoladamente. Considerando que um Estado forte em termos econômicos – é aquele que não é apenas um Estado regulador e determinado a democratizar a economia de mercado, mas, um Estado democrático que englobe todos os setores da sociedade, e que seja capaz de promover o fim das injustiças sociais, das discriminações raciais e culturais, por exemplo, e que promovam também uma perspectiva de uma melhor qualidade de vida.
Em suma, podemos evidenciar que a enfraquecimento do Estado na Bolívia é reflexo de uma economia subdesenvolvida, dependente da ajuda externa e socialmente excludente.
Notadamente, observamos que as distorções políticas causadas pelo narcotráfico são muito sérias nos países produtores como a Colômbia e a Bolívia, onde os mesmos sofrem tradicionalmente com a precariedade das instituições centradas no poder do Estado. Vejamos o que diz o cientista político Gonzalo Chávez:
O narcotráfico criou uma rede de suborno e corrupção que atravessa todo o Estado, particularmente as agências estatais encarregadas de seu controle e repressão. Esta situação proporciona aos traficantes muita influência política e um eficiente esquema de informação. Os barões das drogas fazem parte de uma New Illegitimate Burgeoisie que tem conseguido fragmentar geograficamente os países produtores, constituindo encraves políticos e militares e, em alguns casos, estabelecendo territórios livres junto com grupos guerrilheiros; desta maneira os Estados boliviano e colombiano são questionados na sua própria essência: sua territorialidade. A divisão político-administrativa criada pelo Estado é substituída por zonas produtoras de drogas, divididas de acordo com os interesses da máfia e da guerrilha, onde as leis, a autoridade e mesmo até a moeda nacional não têm validade. O Estado, além de perder o controle sobre a economia, perde hegemonia, legitimidade e autoridade. Os barões da cocaína intervêm na política dos países produtores independentemente do sistema de governo imperante, financiam campanhas para senadores e deputados e golpes de Estado (como na Bolívia e na Colômbia) (Chávez, 1989:44).
Na luta pelo combate do narcotráfico é de suma importância que todos os países devam ter uma co-responsabilidade na questão das drogas em geral e por sua vez não apresente uma política de culpabilidade somente aos países produtores.
É, pois inquestionável que cada um dos envolvidos, quer sejam, produtores ou consumidores combatam com veemência este mal horrendo, que está se alastrando rapidamente destruindo grande parte da sociedade e das famílias - desde os considerados economicamente: da classe baixa, da média ou até mesmo da alta; a droga está inserida em todo o meio gerando problemas sociais, econômicos e institucionais nesses países.
Embora muito já tenha sido proposto pelos países envolvidos, como o Plano Colômbia (2001) e a Lei de Proteção Comercial e Erradicação da Droga nos Andes (ATPDEA), por exemplo, que beneficiava o Peru, a Colômbia e a Bolívia. Entretanto, vale destacar que “Em 28 de dezembro de 2009, Obama (presidente dos Estados Unidos) assinou um decreto que permitia estender até 31 de dezembro de 2010, as preferências comerciais a todos os países participantes, com exceção da Bolívia” (Documento – aula – 3: 3).
Mesmo assim, ainda é necessário que novas ações políticas sejam implementadas com urgência, como encarar as realidades - sócio-econômicas das populações mais afetadas pela pobreza e pela falta de investimentos em educação, cultura, esporte, infra-estrutura, saúde, segurança, entre outros, conjuntamente com uma revisão do papel das instituições e do Estado na sociedade - criando condições que proporcione oportunidades aos menos favorecidos nas sociedades atuais de cada país, evitando assim altas perdas econômicas e sociais geradas pela violência do narcotráfico.
Referências bibliográficas
APOSTILHA. Da História da América VI. Aulas: 02 e 03
CHÁVEZ, Alvarez, Manuel Gonzalo. Narcotráfico: um novo item nas relações entre os Estados Unidos e a América Latina. In: Política e estratégia. São Paulo, vol. I, no. 7, 1989.
DOCUMENTOS. Anexos das aulas 02 e 03
RODRÍGUEZ, Ricardo Vélez. Os primórdios da guerra do narcotráfico na Colômbia. Disponível em: http:// www.ecsbdefesa.com.br/arc/Art%2031.htm.Acessado em, 13/04/2010.
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